Vereadores de Parauapebas são presos por corrupção

“O valor que o vereador ganha aqui, se ele não for corrupto,
ele, não tenha nenhuma dúvida, que ele mal se sustenta durante o ano”,
diz o vereador Odilon Rocha de Sanção.

Você faria o quê, se ouvisse um vereador da sua cidade defender a
corrupção, e um outro vereador ofender professores? Isso aconteceu e foi
em um dos municípios mais ricos do Pará.



O ônibus escolar viaja
perigosamente superlotado, em Parauapebas, no Sul do Pará, um dos
inúmeros municípios brasileiros que sofrem com o mau uso do dinheiro
público.



Em Parauapebas, parte desses desmandos pode ser entendida se a gente acompanhar uma sessão da Câmara de Vereadores da cidade.


Ouça o que dizem os dois vereadores.
“O
valor que o vereador ganha aqui, se ele não for corrupto, ele, não
tenha nenhuma dúvida, que ele mal se sustenta durante o ano”, diz o
vereador Odilon Rocha de Sanção.



“Pode rasgar a boca, o que quiser aí, que eu tô c**** e andando”, diz o vereador Major da Mactra.
Odilon
Rocha de Sanção, do Partido Solidariedade é o vereador que ficou famoso
no Brasil inteiro pela sinceridade: “Se ele não for corrupto”. Odilon é
acusado de ser um dos principais operadores de um esquema de corrupção
investigado pelo Ministério Público do Pará. Outros políticos da cidade
também são suspeitos.



O supermercado Baratão está no centro do
esquema de corrupção. Segundo a investigação do Ministério Público, a
Câmara de Vereadores de Parauapebas fez contratos fraudulentos com o
Baratão, para fornecimento de gêneros alimentícios. Mas, de barato, os
contratos não tinham nada. O que chamou a atenção dos investigadores foi
a quantidade de comida que deveria ser fornecida para o lanche dos
vereadores.



A Câmara tem 15 vereadores e apenas uma sessão por
semana. Parece que, quando se encontram, eles estão sempre muito
famintos. Em apenas um mês o Baratão teria fornecido 27 quilos de
presunto, outros 27 quilos de queijo e uma tonelada de café. Isso mesmo,
mil quilos.



Em uma conversa, gravada com autorização judicial,
explica o tamanho do apetite. Falam ao telefone Edmar Cavalcante de
Oliveira, o dono do Baratão, e um homem, não identificado, que faz parte
do esquema.



Homem: Eu estou olhando que as notas
que tu mandou aqui, vamos precisar dá uma mexida nesse trem aqui,
bicho. Botou aqui 9.494 de requeijão.


Edmar Cavalcante de Oliveira: Está na nota fiscal?


Homem: Está R$ 30 mil só de requeijão.
A
diferença entre o que a Câmara realmente gastava e o que ela dizia que
gastava ia direto para o bolso dos vereadores, de acordo com o
Ministério Público. O dono do Baratão, que emitia as notas frias, fez
acordo de delação premiada.



Promotor: A nota fiscal era preenchida da forma como eles diziam…


Edmar Cavalcante de Oliveira: Era.
Preste
atenção nesta história. Edmar conta que pagou propina para o vereador
Josineto Feitosa. O cheque foi repassado para Odilon Sanção, mas não
tinha fundos.



Promotor: A ida do Odilon ao seu supermercado, o que ele foi cobrar?
Edmar Cavalcante de Oliveira: Foi cobrar um cheque de 29 mil e 800 que eu tinha passado para o Josineto. Esse eu entreguei para o Josineto mesmo.


Promotor: E era cheque de propina?


Edmar Cavalcante de Oliveira: Era cheque de propina.
Josineto
Feitosa de Oliveira, do Solidariedade, é ex-presidente da Câmara.
Procurado, ele não quis se manifestar. Segundo a investigação, o esquema
de corrupção envolvia ainda contratos fraudulentos de aluguel de
carros.



“Dos 40 veículos que a Câmara pagava todo mês pela locação
ela recebia oito veículos”, diz o promotor de Justiça Hélio Rubens
Pinheiro.



A locadora usada no esquema, a Corelo, pertence a quem? Ao Edmar, o dono do Baratão.
Odilon
Sanção e outro vereador, José Arenes, do PT, também suspeito de
participação no esquema, foram presos e transferidos para Belém.
Procuramos os advogados dos dois, o de Odilon disse que não daria
entrevista. O de Arenes não foi localizado. Em Parauapebas, a revolta é
geral.



“A gente não tem escola, não tem saúde, não tem uma água de qualidade”, diz uma mulher.
“A cidade não tem saneamento básico, não tem esgoto. O município hoje está entregue para as cobras”, diz uma outra moradora.


Mas é assim que o vereador Major da Mactra, do PSDB, se dirige aos cidadãos: “Eu tô c*** e andando”.


O
alvo de tanta gentileza eram professores que pediam melhores condições
de trabalho. Em uma escola, o almoço e até as aulas de educação física
são dentro da sala.

O improviso começa no caminho, naquele ônibus superlotado.


Ivan Saraiva, motorista: Eu levaria o que está escrito aqui, 48 passageiros. Tem viagem que a gente leva 120, 130 crianças.


Fantástico: Você colocaria seu filho em um ônibus desse?


Ivan Saraiva: Jamais.
No desembarque das crianças, dá para entender melhor o que acontece em Parauapebas.




fonte: Do Fantástico

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