Maranhão registra aumento de 247% nas vendas de ivermectina contra Covid-19; eficácia não é comprovada

Mais de 1 milhão de unidades do medicamento foram vendidas no estado durante a pandemia no ano passado. Ao G1, classe farmacêutica diz que vê com preocupação o aumento no uso da ivermectina para o tratamento precoce contra a Covid-19

O medicamento ivermectina, vermífugo que, devido ao aumento pela procura para tratamento do Covid-19, desapareceu das farmácias em Campo Mourão, na Região Centro-Oeste do Paraná. Ainda sem comprovação científica de que o fármaco tenha resultado positivo no tratamento contra o novo coronavírus, especialistas temem que a automedicação acabe intoxicando os pacientes. Na foto, caixa e cartela de comprimidos do medicamento.

De acordo com um levantamento feito pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF), o Maranhão registrou um aumento de 247% nas vendas de ivermectina, vermífugo usado no suposto tratamento precoce da Covid-19. Ainda não há estudos que comprovem a eficácia do medicamento na ação contra a doença.

Em 2020, foram vendidas 1.064.165 unidades do medicamento, número bem superior aos 306.599 unidades que foram comercializadas em 2019. A ivermectina é usada para promover a eliminação de vários parasitas do corpo e faz parte do chamado “Kit Covid”, que vem sendo comercializado no país no suposto combate ao coronavírus.

Ao G1, Marcelo Rosa, conselheiro Federal de Farmácia pelo Maranhão, explicou que o aumento expressivo do uso do medicamento pode ser explicado pela divulgação de informações equivocadas sobre a eficácia em relação ao tratamento contra a doença. Como por exemplo, a recomendação por parte da classe médica do uso do medicamento para o tratamento precoce contra a doença.

” O que a gente analisa é justamente a disseminação de muitas informações, às vezes equivocadas, e a disseminação de estudos científicos que não eram bem relacionados à questão da Covid. Houve no Brasil também uma divulgação a respeito do tratamento precoce que também teve amparo nos meios médicos, dos profissionais da saúde, tinham médicos defendendo esse médico precoce”, disse.

Para o conselheiro, há uma preocupação, por parte da classe farmacêutica, pelo aumento no uso da ivermectina, já que isso pode ser um indicativo que à população possa estar se automedicando ou utilizando o medicamento para o tratamento precoce. Ele alerta que o uso sem prescrição médica, pode causar problemas de saúde graves.

“O Conselho Federal de Farmácia está preocupado com o uso indiscriminado desses medicamentos, porque tem gente está usando constantemente ivermectina, mesmo não tendo os sintomas e achando que se utilizar pode prevenir a doença. Isso não é verdade. Não existe prevenção da Covid-19 com a utilização da ivermectina. O medicamento sem uso adequado pode levar pessoas a terem intoxicações e efeitos colaterais graves”, explicou Marcelo Rosa.

Outros medicamentos

O estado também obteve um aumento de 74%, nas vendas hidroxicloroquina, também usado no suposto tratamento contra a Covid-19. Entretanto, o medicamento que tem o uso defendido pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), não possui estudos que comprovem a eficácia contra a doença.

Os dados apontam que o Maranhão também registrou um crescimento 72% nas vendas do Ácido Ascórbico (Vitamina C) e de 128% do Colecalciferol (Vitamina D). Ao todo, foram vendidas mais de 2,8 milhões de unidades de Vitamina C e mais de 523 mil de Vitamina D.

Eficácia não comprovada

Em um comunicado divulgado na quinta-feira (4), a farmacêutica Merck, responsável pela fabricação da ivermectina, informou que não há dados disponíveis que sustentem a eficácia do medicamento.

A empresa destaca três pontos da análise:

  • Não há base científica para um potencial efeito terapêutico contra Covid-19 em estudos pré-clínicos;
  • Não há evidência significativa para atividade clínica em pacientes com a doença;
  • E há uma preocupante ausência de dados sobre segurança da substância na maioria dos estudos.

Um levantamento feito pelo G1 apontou que a venda do medicamento teve um aumento de 557% entre 2019 (antes da pandemia) e 2020 (quando a pandemia começou).

Outros medicamentos sem eficácia comprovada contra a Covid-19 também tiveram altas expressivas nas vendas em 2020, como a hidroxicloroquina e a nitazoxanida (veja gráfico abaixo).

Venda de remédios sem eficácia contra a Covid-19 em farmácias do Brasil — Foto: Elcio Horiuchi/Arte G1

Venda de remédios sem eficácia contra a Covid-19 em farmácias do Brasil —

Foto: Elcio Horiuchi/Arte G1

Foto: DIRCEU PORTUGAL/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO

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