Lava Jato pode causar estrago político sem precedentes em 2017
Não é exagero prever que a Lava Jato tem
potencial para causar um estrago político sem precedentes em 2017, mesmo
após um ano marcado por eventos imprevisíveis na investigação mais
profunda que o país já viu.
As últimas semanas de 2016 sinalizam o
que vem por aí. Enquanto este texto era escrito, dezenas de executivos
da Odebrecht prestavam depoimento para corroborar o que informaram no
acordo de delação premiada.
Ao todo, 77 funcionários do grupo
contam em detalhes como funcionou um engenhoso esquema de corrupção com
políticos do governo federal e do Congresso, governadores, e outros
tantos nomes já implicados nas conversas preliminares.
Diante
disso, um movimento curioso deve ocorrer no próximo ano: o protagonismo
do juiz Sergio Moro e de procuradores que atuam em Curitiba tende a
dividir as atenções com os capítulos da investigação em Brasília sobre
políticos com foro no STF (Supremo Tribunal Federal).
Nas mãos de
Moro, porém, segue a expectativa sobre o julgamento em 2017 do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, réu pelos crimes de lavagem de
dinheiro e corrupção passiva em razão das relações com a empreiteira
OAS. O petista ainda responde por outras duas ações penais.
Uma
eventual condenação de Lula abre caminho para a confirmação de pena em
segunda instância, hipótese que pode colocá-lo atrás das grades e, ao
mesmo tempo, torná-lo inelegível, atrapalhando os planos do PT de tê-lo
como candidato em 2018.
Voltamos a Brasília, onde a
Procuradoria-Geral da República e o STF terão pela frente o desafio de
esquadrinhar o envolvimento de ministros do governo de Michel Temer,
senadores e deputados citados pela Odebrecht.
Alguns nomes, como
Renan Calheiros (PMDB-AL) e Romero Jucá (PMDB-RR), por exemplo, já são
conhecidos dos escaninhos da PGR. Segundo investigadores, são
personagens com potencial para ganhar mais alguns inquéritos no
currículo.
A expectativa é que o STF homologue a delação da
Odebrecht até março. A partir daí, caberá à equipe do procurador-geral
da República, Rodrigo Janot, definir quais dos citados devem ser
investigados.
Inevitavelmente, o avanço da operação deve causar impacto no governo de Michel Temer.
Bastou,
por exemplo, a divulgação pela imprensa do teor de um dos depoimentos
previstos para derrubar o assessor especial da Presidência, José Yunes.
Ele foi acusado pelo ex-diretor da empreiteira Cláudio Melo Filho de
receber recursos de caixa dois da campanha eleitoral de 2014.
Em
menos de um mês, dois dos quatro assessores de confiança de Temer no
Planalto caíram: Yunes e Geddel Vieira Lima, abatido pelo escândalo do
prédio em Salvador.
Restam o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco, secretário do Programa de Parceria de Investimentos.
Ambos
estão nas cordas depois de serem mencionados na delação de Melo Filho
como operadores financeiros do PMDB no esquema de corrupção. Por ora,
continuam no cargo, mas uma eventual queda deles enfraquece e isola
Temer, que não consegue dar sinal de fôlego a uma economia em recessão.
Numa
carta a Rodrigo Janot, o presidente pediu celeridade na Lava Jato e
disse que vazamentos de delação afetam a economia do país —e, embora não
diga, provocam abalos sísmicos no Planalto.
Com ou sem Padilha e
Moreira ao seu lado em 2017, Temer sabe que precisa se preparar para
sobreviver a um provável terremoto de grandes proporções na Esplanada
blog do Raimundo Lima