Governo negocia 150 indicações entre novos pedidos de aliados e postos já ocupados pela base

Cobranças são para que as nomeações sejam publicadas no Diário Oficial até a próxima segunda-feira

BRASÍLIA – Para garantir aos aliados que os cargos pedidos sairão, mesmo que as nomeações não sejam publicadas na próxima semana, antes da votação da próxima medida do ajuste fiscal, o governo começou a avisar que todas as indicações já foram encaminhadas à Casa Civil. Esta, por sua vez, vem informando que também já autorizou o envio dos nomes para a triagem da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e aos ministérios que têm a prerrogativa de efetivá-las. Tudo isso porque os aliados tinham cobrado que as nomeações saíssem no Diário Oficial (D.O.) até segunda-feira.
A articulação política do governo já conseguiu negociar 150 posições na máquina federal. Nessa

conta estão não só as novas indicações pedidas por deputados e senadores, mas também solicitações para que sejam mantidos em cargos-chave servidores que chegaram lá por indicação política. Mas poucos nomes já foram oficializados no DO. Além da alegada burocracia como fator de demora para efetivar as nomeações, uma parcela significativa dos cargos mais cobiçados, especialmente no setor elétrico, deverão passar diretamente pelo crivo da presidente Dilma Rousseff para serem efetivados.

As Companhias Docas são as mais pedidas pelos aliados, e despertam o interesse direto do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do líder do PMDB, Leonardo Picciani (RJ). Onde não houver acordo, explicou uma fonte do governo, a definição será resolvida por arbitragem do vice-presidente Michel Temer. Além das Docas, os deputados da base aliada têm forte interesse pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), Fundação Nacional de Saúde (Funasa), delegacias de Agricultura e superintendências da Pesca.

Considerada a “joia da Coroa” até a Operação Lava-Jato, a Petrobras virou uma espécie de patinho feio nas atuais negociações. Segundo integrantes do governo, não houve pedidos para a estatal. O desinteresse se deveria às investigações pelas quais passa a empresa. Já os cargos no setor elétrico, que concentra empresas e agências importantes em volume de recursos e poder político, passarão diretamente por Dilma. Ela informou a Temer que irá participar de todas as decisões relacionadas à área.

As indicações para o setor já provocaram turbulências entre Dilma e Temer. Um acordo entre o PMDB e o PT de Santa Catarina resultou na indicação, para a Eletrosul, de Djalma Berger, irmão do senador Dário Berger (PMDB). Dias depois, o Ministério de Minas e Energia divulgou uma nota dizendo que Márcio Zimmermann, secretário-executivo da pasta e escolha pessoal da presidente Dilma, irá para o cargo. A nomeação ainda não saiu.

Em seis estados — Pará, Santa Catarina, Goiás, Piauí, Sergipe e Tocantins — foram fechados acordos com os partidos da base para a liberação dos cargos. Segundo um integrante do governo, o maior beneficiado é o PT, e o segundo, o PMDB, o que obedece a proporção das bancadas da Câmara. Nos outros 21 estados, há ainda muita disputa e os acordos que haviam sido fechados excluíam um ou outro partido da base, o que levou a articulação política do governo a refazer o mapa das indicações. São Paulo e Rio de Janeiro são os estados em que há mais dificuldade para as nomeações, pela quantidade de deputados envolvidos e pela importância dos cargos.
Leonardo Picciani afirma que a expectativa no PMDB é que as nomeações saiam em breve e sinaliza que disso dependerá o sucesso do governo no Congresso.

— Acho que o mais indicado para o governo é tomar a decisão política e acabar logo de vez com a montagem. Isso sempre deixa o ambiente mais tumultuado. Esperamos que o processo possa se encerrar em breve. Até porque, a votação da MP 664 ainda não está definida — diz Picciani.

A reorganização da base aliada é o objetivo central nas nomeações, já que quase metade dos deputados são novatos e não têm cargos no governo. Ao mesmo tempo, os antigos, que foram reeleitos, querem manter as suas indicações. Com a remontagem da base aliada, o governo espera ter um grau de confiabilidade no plenário que garanta maioria sólida. Para facilitar a aprovação dos indicados, os responsáveis pelas negociações no Planalto estão pedindo que sejam sugeridos nomes técnicos.

O Palácio do Planalto desenvolveu uma fórmula pela qual estão sendo definidas as indicações: tamanho da bancada e a fidelidade ao governo nas votações. Com isso, PDT e PP correm o risco de saírem prejudicados na nova configuração do governo.

MANOEL DIAS DIZ QUE FICA
Segundo uma fonte do governo, as negociações com os pedetistas estão “congeladas” em razão da oposição dos deputados à MP 665, que endurece as regras para concessão de seguro-desemprego e abono salarial. Por ora, Manoel Dias permanecerá no Ministério do Trabalho, mas ele pode sair quando a votação do ajuste estiver concluída.
Ao participar da comemoração dos 70 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, no Rio, Dias negou que exista a possibilidade de ser demitido.

— Não existe ameaça. O PDT está muito bem. A bancada tomou uma posição que entendeu ser a mais correta, e ela tem autonomia para isso — afirmou.
Com o PP, haverá uma conversa na próxima semana. Os votos contrários ao ajuste foram entendidos como uma reclamação do partido por não ter sido compensado com a troca do Ministério das Cidades pelo da Integração Nacional, que tem menos cargos do que o ocupado anteriormente. (Colaborou: Bruno Góes)
fonte: JÚNIA GAMA E SIMONE IGLESIAS



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