Duas pessoas morrem após desabamento de ciclovia no Rio

Ciclovia Tim Maia foi inaugurada no dia 17 de janeiro.
Local teria sido atingido por uma forte onda; 3 vítima é procurada.

Um trecho de cerca de 50 metros da ciclovia Tim Maia, na Avenida Niemeyer, em São Conrado, na Zona Sul do Rio, desabou na manhã desta quinta-feira (21), pouco mais de três meses após suainauguração. Segundo os Bombeiros, duas pessoas morreram no local após cair no mar. Uma terceira vítima ainda é procurada.
Segundo frequentadores e motoristas que passavam por lá, a ciclovia foi atingida por uma forte onda que, além de destruir o local, também quebrou o parabrisa de um ônibus e teria arrastado uma mulher no calçadão.
A ciclovia que fica às margens da Avenida Niemeyer, que liga os bairros de São Conrado e Leblon, foi inaugurada no dia 17 de janeiro. A via tem 3,9 quilômetros e vista para o mar. Ela chegou a receber críticas de arquitetos por encobrir a vista do mar para os motoristas que trafegam pela avenida. Além disso, em vários trechos ela não tem calçada.
‘Imperdoável’, diz Pedro Paulo
O secretário Executivo de Governo, Pedro Paulo Carvalho, garantiu que não há riscos de novos desabamentos e classificou o acidente como “imperdoável”.
“Muito precipitado nós fazermos qualquer tipo de acusação sem ter ainda o laudo dos engenheiros, mas é claro que um acidente como esse é imperdoável”, disse Pedro Paulo, em entrevista à Globo. “Nós interditamentos a ciclovia da Niemeyer para ninguém venha pra cá. A princípio, não há risco de novos desabamentos.”
Arte do desabamento da ciclovia na Avenida Niemeyer (Foto: Editoria de Arte/G1)
Corpos resgatados na praia de São Conrado (Foto: Kathia Mello/G1)Corpos resgatados na praia de São Conrado (Foto: Kathia Mello/G1)
O secretário confirmou que há suspeita de que mais uma vítima ainda esteja desaparecida e que a prefeitura vai trabalhar com técnicos que fizeram a obra.
“Ainda há suspeitas de uma pessoa no mar. Ainda não há confirmação, mas o Corpo de Bombeiros trabalha com a possibilidade de mais uma vítima. Nós não vamos trabalhar com especulação. Vamos trabalhar com os técnicos que fizeram a obra para saber realmente o que causou o acidente”, afirmou o secretário.
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Mulher de uma dar vítimas chega para reconhecer o corpo (Foto: Kathia Mello/G1)Mulher de uma dar vítimas chega para reconhecer o corpo (Foto: Kathia Mello/G1)

As pessoas pararam na ciclovia, acharam bonito e ficaram tirando fotos das ondas. Eram enormesVeio uma maior ainda, a ciclovia levantou e caiu um pedaço. Vi as pessoas caindo. É triste.”
Damião Pinheiro de Araújo,
testemunha do acidente
Damião Pinheiro de Araújo, de 60 Anos, passava pelo local de bicicleta na hora em que as ondas atingiram a ciclovia.

“As pessoas pararam na ciclovia, acharam bonito e ficaram tirando fotos das ondas. Eram enormes. Veio uma maior ainda, a ciclovia levantou e caiu um pedaço. Vi as pessoas caindo. É triste. Toda vez que o mar subir vai ter que interditar a ciclovia, faz parte da natureza. Para mim ela foi mal planejada”, disse Damião.
Cunhado de uma das vítimas do desabamento da ciclovia niemeyer (Foto: Kathia Mello/G1)Cunhado de uma das vítimas do desabamento da
ciclovia niemeyer (Foto: Kathia Mello/G1)
O administrador Guilherme Miranda passava pelo local no momento do acidente.

“Eu quase morri. Já chegou a imprensa inteira. Cadê o prefeito, cadê o engenheiro que fez essa obra? É desesperador você ver as pessoas morrendo na sua frente. Alguém tem que dar uma resposta disso, foram R$ 45 milhões. Acabaram de inaugurar e já está rachada em vários pontos, passo aqui todos os dias para ir e voltar do trabalho”, disse Guilherme.
Ele relata ainda ter visto três corpos boiando. Miranda criticou ainda o ato de a ciclovia ser afastada da pista, o que deixa o ciclista sujeito a assaltos.
Um outro homem que também passou pelo local pouco antes do acidente relatou que a onda era muito forte. “A onda batia na pedra e subia, varria a Niemeyer e a ciclovia. Era tão forte que não dava pra passar. Eu tive que esperar no meu caminho de ida e volta”, contou Roberto Meliga.
O cunhado de uma das vítimas, João Ricardo Tinoco, disse que o homem, identificado como Eduardo Marinho Albuquerque, tinha 54 anos e morava em Ipanema, também na Zona Sul. “Ele sempre corria aqui”, disse João Ricardo. Ainda segundo ele, Eduardo gostava muito da Avenida Niemeyer e achava a ciclovia bonita.
‘Falha de projeto’, diz CREA-RJ
O engenheiro civil e conselheiro do CREA-RJ, Antônio Eulálio, declarou à Globo News que acredita que houve “uma falha de projeto” da ciclovia da Avenida Niemeyer, em São Conrado, Zona Sul do Rio, que desabou na manhã deste sábado.
“O problema é que não foi previsto no projeto essa força excepcional porque a onda levantou a ponte. Acho que foi uma falha de projeto. Só tem uma viga central praticamente, então, não tem resistência para o momento. São dois apoios, ele não conseguiu suportar esse esforço de rotação, devido a onda que bateu. Foi falha de concepção do projeto”, afirmou o engenheiro civil e conselheiro do CREA-RJ. “Não foi previsto no projeto, deveria ter sido”.
Ele acrescentou que “os autores do projeto vão ser chamados para terem direito à defesa” para que sejam aplicadas as medidas cabíveis. E acrescentou ainda que pode ocorrer a “até a cassação do registro”.
O Consórcio Contemat-Concrejato, responsável pela obra, informou que uma equipe técnica da empresa já se encontra no local, trabalhando em coordenação com a Secretaria Municipal de Obras e que as prioridades neste momento são garantir o atendimento às vítimas e seus familiares e avaliar as causas do acidente.
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Helicóptero dos bombeiros fazem buscas por vítimas de desabamento de ciclovia (Foto: Maíra Coelho / Estadão Conteúdo)Helicóptero dos bombeiros fazem buscas por vítimas de desabamento de ciclovia (Foto: Maíra Coelho / Estadão Conteúdo)

A Avenida Niemeyer foi interditada nos dois sentidos por volta das 11h50, segundo o Centro de Operações da Prefeitura e não há previsão para liberação do tráfego. Os motoristas devem seguir pela Autoestrada Lagoa-Barra.
Complexo Tim Maia
O trajeto total, do Leblon à Barra, terá sete quilômetros de extensão, mas ainda não tem data exata para ser inaugurado. Com construção iniciada em junho de 2014, a ciclovia teve custo de R$ 44,7 milhões.
Grande parte da ciclovia — nos bairros do Leblon e São Conrado — já existiam e foram incluídas no complexo cicloviário que ganhou o nome de Tim Maia porque, no projeto original, vai ligar o Rio “Do Leme ao Pontal”, exatamente como na canção imortalizada por ele.
No início do ano, cariocas e turistas já dividiam o espaço com os operários. Em nota na ocasião, a prefeitura do Rio informou que o uso da pista durante as obras não era proibido, mas sim indevido.
Trecho da ciclovia liga os bairros de São Conrado e Leblon e tem 3,9 km de extensão. (Foto: Reprodução / Globo News)Trecho da ciclovia liga os bairros de São Conrado e Leblon e tem 3,9 km de extensão. (Foto: Reprodução / Globo News)
Ciclovia da Av. Niemeyer foi inaugurada no dia 17 de janeiro. (Foto: Reprodução / Globo news)Ciclovia da Av. Niemeyer foi inaugurada no dia 17 de janeiro. (Foto: Reprodução / Globo news)
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Ciclovia que desabou em São Conrado ficou interditado (Foto: Ricardo Abreu / GloboNews)Ciclovia que desabou em São Conrado ficou interditada (Foto: Ricardo Abreu / GloboNews)

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Ciclovia da Niemeyer é inaugurada (Foto: Matheus Rodrigues/G1 Rio)Ciclovia da Niemeyer foi inaugurada em janeiro (Foto: Matheus Rodrigues/G1 Rio)

Ciclovia da Avenida Niemeyer, em São Conrado (Foto: Fábio Motta / Estadão Conteúdo)Ciclovia da Avenida Niemeyer, em São Conrado, antes do acidente (Foto: Fábio Motta / Estadão Conteúd
G1 POSTADO POR  RAIMUNDO LIMA

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