Após cirurgia em SP, Humberto Coutinho volta ao comando da Assembleia e se consolida com articulador

Num tempo em que o mundo político brasileiro está assolado pela crise, num cenário em que os incendiários se multiplicam e os bombeiros e conciliadores são cada vez mais raros, o Maranhão aparece como uma espécie de oásis. De uns tempos para cá, os maranhenses alimentam a existência normal e republicana dos embates entre governo e oposição, mas sem registrar aquelas crises domésticas e periféricas que via de regra tensionam os Poderes do Estado, geram mal-estar e, às vezes, alcançam desdobramentos devastadores. Um exame isento desse momento remete naturalmente para o Palácio dos Leões, aonde o governador Flávio Dino (PCdoB) vem atuando com eficiência gerencial e com equilíbrio político; e para o Palácio Manoel Bequimão, onde o deputado-presidente Humberto Coutinho (PDT) vem se consolidando como um dos mais bem sucedidos articuladores políticos que comandaram o Poder Legislativo nos últimos tempos.
Num estado onde aqui e ali a Assembleia Legislativa era transformada em campo de batalha, ora por segmentos insatisfeitos em busca de melhorias – como a perigosa greve da Polícia Militar em 2012, por exemplo -, ora por grupos parlamentares em conflito entre si ou com o Poder Executivo, a situação hoje é de nítida normalidade, apesar dos tremores eventuais. O Poder Legislativo continua sendo a caixa de ressonância da sociedade organizada, como também da insatisfação dos grupos políticos das mais diversas cores que compõem o seu plenário. A diferença é que na atual legislatura os movimentos, sejam eles internos ou externos, são tratados com audição, interlocução e um grau de tolerância pouco admitido em situações dessa natureza. E a razão disso é a ampla e arguta visão política do presidente do Poder Legislativo, que parece não ter limite quando busca alcançar um ponto de conciliação.
Cinco mandatos depois – intercalados por dois de prefeito de Caxias -, Humberto Coutinho chegou ao comando da Assembleia Legislativa como uma incógnita para muitos. Primeiro porque desconheciam a sua índole conciliadora – da qual muitos abusaram para só depois se dar conta que ao lado do líder tolerante havia também um político com clara noção de limite, e que sempre partiu para o enfrentamento duro, quando a negociação não funcionou. Foi muitas vezes atacado e respondeu no fio da linha, mas com tenacidade pouco comum. Não perdeu uma só guerra que o obrigaram a travar. Os anos de embate no torrão caxiense, e também na seara estadual contra adversários acobertados por aliados poderosos, lhe ensinaram as regras do jogo, nas quais se tornou mestre. Em meio ao fogo cruzado, descobriu que o melhor da política é a conversa, as cartas na mesa.
Foi nessa linha que Humberto Coutinho se adaptou a situações novas, conheceu outra frente da ação política e se tornou um dos líderes do movimento que derrotou o grupo dominante liderado por Roseana Sarney (PMDB) e se firmou como peça chave do processo de mudança que está em curso no Maranhão. Hoje, o deputado caxiense é o principal interlocutor do governador Flávio Dino, intermediando pleitos e resolvendo conflitos entre a classe política e o Palácio dos Leões. E fecha o primeiro ano presidencial como uma espécie rara de unanimidade no sempre insatisfeito cenário da política, principalmente quando a situação é formada por uma coalizão de forças com visões e interesses distintos. Outras vozes falam para dar suporte ao governador Flávio Dino, mas, pelo menos até aqui, nenhuma está mais credenciada nem tem o peso da do presidente da Assembleia Legislativa.
Ontem, por exemplo, o presidente do Legislativo teve mais um dia de intensa interlocução entre a base parlamentar e o governo estadual por causa da não liberação de emendas. Ele retornara domingo de São Paulo, onde se submetera a uma intervenção cirúrgica, e deveria comandar a sessão da segunda-feira. O imbróglio das emendas o levou a  encontrar o governador para uma reunião cujo objetivo era achar solução para as pendências. Na sua ausência, algumas tentativas de resolver o mal-estar foram feitas, mas a cada uma delas ficou mais claro que a solução só viria quando o presidente Humberto Coutinho entrasse no circuito das negociações, assumindo a interlocução como porta-voz dos deputados. E foi o que ele fez dando um passo de importância decisiva para que o embate entre deputados e o Palácio dos Leões terminasse com um grande acordo. Caminho para fechar o ano legislativo com aprovação sem reservas dos seus pares, dos seus aliados, dos seus liderados, enfim, dos que enxergam nele uma das garantias para que o processo de mudança avance sem traumas.
Fonte: Sinal Verde

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