Com alta da inflação, diferença de preços chega a 245% em lojas
Levantamento feito pelo GLOBO mostra que o mesmo medicamento chega a custar numa farmácia o triplo do cobrado em outra do mesmo bairro
RIO – A inflação que vem consumindo a renda dos brasileiros e pode passar dos 9% este ano se reflete de forma desigual no varejo carioca. Levantamento feito pelo GLOBO na semana passada em 19 farmácias e 26 supermercados das principais regiões da cidade mostra que o mesmo medicamento chega a custar numa farmácia o triplo do cobrado em outra do mesmo bairro, enquanto o mesmo alimento foi encontrado num supermercado pelo dobro do preço do concorrente.
O exemplo mais extremo é o do genérico Omeprazol da Medley, usado para tratar gastrite e úlcera. Na Tijuca, a caixa com 28 cápsulas de 20mg era vendida por R$ 23,60 na Venâncio da Rua General Roca. A 800 metros dali, na Droga Raia da Avenida Conde de Bonfim, o mesmo medicamento saía por nada menos que R$ 81,46 — ou seja, R$ 57,86, ou 245% mais caro. A mesma disparidade foi observada entre as lojas das duas redes na Barra da Tijuca.
Na hora de abastecer a despensa, quem não pesquisa também pode acabar pagando uma diferença muito maior do que a gerada pela inflação. Nos supermercados pesquisados, alguns produtos chegavam a dobrar de preço de uma loja para outra. Caso do requeijão Vigor, vendido por R$ 2,99 no Guanabara da Barra da Tijuca, e por R$ 5,89 no Carrefour do mesmo bairro — diferença de 96,99%.
DISCREPÂNCIA ATÉ NA MESMA REDE
A discrepância é ainda maior entre regiões diferentes. O sabão líquido Omo de 1 litro custava R$ 5,39 no supermercado Campeão de Vila Isabel. No Prezunic de Botafogo, o mesmo produto saía por R$ 11,98 ou 122% mais caro. Mas, mesmo comparado com concorrentes do mesmo bairro, a diferença ainda era grande, como era o caso do Mundial, também de Botafogo, que vendia o sabão por R$ 6,50. Até entre lojas da mesma rede, as variações de preços são significativas: no Extra do Largo do Machado, o litro de Omo custava R$ 10,90, ou seja, 55% mais caro que na filial da Lapa da mesma rede, onde o produto era vendido por R$ 6,99.
Segundo especialistas, muitos fatores podem influenciar a discrepância dos preços, como público-alvo, concorrência e, principalmente, a capacidade de negociação de cada empresa. Exatamente por isso, em tempos de inflação alta e vendas baixas, essas diferenças se acentuam. No início do mês, reportagem do GLOBO mostrou que os fornecedores têm tentado repassar reajustes de até 15% ao varejo — refletindo o aumento de custos como energia e transporte. Companhias com mais poder de fogo tendem a sacrificar parte da margem de lucro ou aumentar o volume de encomendas para evitar perder clientes, uma estratégia ousada para redes menores.
— É comum o próprio varejista sacrificar suas margens devido a uma necessidade qualquer. Se em meados do mês ele quer vender, pode fazer uma loucura e vender a um preço menor que o concorrente. Isso pode ocorrer quando se fala em gêneros de primeira necessidade. São produtos que chamam o consumidor para a loja — explica o consultor de varejo Marco Quintarelli.
Samy Dana, professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (EAESP/FGV), acrescenta que, no caso das farmácias, é comum que as margens de lucro sejam mais amplas, o que permite uma flutuação maior dos preços.
RIO – A inflação que vem consumindo a renda dos brasileiros e pode passar dos 9% este ano se reflete de forma desigual no varejo carioca. Levantamento feito pelo GLOBO na semana passada em 19 farmácias e 26 supermercados das principais regiões da cidade mostra que o mesmo medicamento chega a custar numa farmácia o triplo do cobrado em outra do mesmo bairro, enquanto o mesmo alimento foi encontrado num supermercado pelo dobro do preço do concorrente.
— No caso de remédio, é fixado um preço máximo. E aí, as farmácias, quando querem, dão desconto. Não acho que esses 245% (variação máxima do preço do Omeprazol) sejam uma diferença de preço de custo — afirma Dana.
Para quem tem problemas de saúde e gasta muito com medicamentos, o único remédio é
pesquisar muito para amenizar a dor no bolso. Caso da aposentada Ângela Castro, de 66 anos, moradora de Copacabana.
— Procuro bastante. O Protos, para os ossos, chega a custar R$ 140. Depois de pesquisar, consegui por R$ 112. É uma economia que faz diferença. Gasto uns R$ 600 por mês com remédios — diz.
Em uma só noite, a cuidadora de idosos Raquel Péricles, e a amiga Cristina Miguez, também cuidadora, percorreram três supermercados em Copacabana. Acham que valeu a pena.
— O que mais pesa no bolso são os legumes. O tomate está quase R$ 10. Querem nos matar? — reclama Raquel, explicando sua estratégia. — Comparo e pechincho muito.
Outro dia, o queijo estava na promoção aqui (no Intercontinental de Copacabana) e corri para pegar. As coisas aparecem de uma hora para outra — ensina.
Já a psicóloga Luciana Vanzan, que fazia compras no Zona Sul de Ipanema, opta pela
comodidade.
— Não dá tempo de pesquisar. Geralmente compro perto de casa, procurando promoções.
POR MARCELLO CORRÊA / ALYNE BITTENCOURT