O ex-presidente também ressaltou a necessidade de construir uma nova utopia e promover uma “revolução interna” no PT.
— O PT precisa urgentemente voltar a falar pra juventude tomar conta
do PT. O PT está velho. Eu, que sou a figura proeminente do PT, já estou
com 69 (anos), já estou cansado, já estou falando as mesmas coisas que
eu falava em 1980. Fico pensando se não está na hora de fazer uma
revolução neste partido, uma revolução interna, colocar gente nova, mais
ousada, com mais coragem. Temos que decidir se nós queremos salvar a
nossa pele e os nossos cargos, ou queremos salvar nosso projeto. E acho
que nós precisamos criar um novo projeto de organização partidária nesse
país.
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Lula
participou da conferência “Novos desafios da democracia”, seguida de
debate com o ex-
presidente do Governo da Espanha, Felipe González, que é
filiado ao Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE). No evento,
realizado em parceria com as Fundações Friedrich Ebet e Perseu Abramo, o
petista também disse que pretende chamar representantes dos novos
partidos que vem surgindo na Europa, como o Podemos, para dar palestras
no Brasil.
— O PT era, em 1980, o que é hoje o Podemos. A gente nasceu de um
sonho, de que a classe trabalhadora pudesse ter vez e ter voz, e nós
construímos essa utopia. Há necessidade de repensarmos a esquerda, o
socialismo e o que fazer quando chegamos ao governo. Enquanto você é
oposição é muito fácil ser democrata você pode sonhar, pensar,
acreditar, mas quando você chega ao governo, precisa fazer, tomar
posições.
Lula afirmou ainda que o maior legado deixado por seu governo foi o exercício da democracia.
— Nunca antes na história do Brasil o povo exerceu tanto a democracia
e participou tanto das decisões do meu governo como o povo participou
quando o PT chegou ao governo.
O petista falou sobre o Foro de São Paulo, grupo composto por
partidos e movimentos de esquerda da América Latina, e um dos temas mais
criticados por movimentos anti-PT e anti-governo.
— O Foro de São Paulo foi criado com a ideia de educar a esquerda
latino-americana a praticar a democracia. Na Argentina, nem o Maradona
unificava a esquerda. Hoje, os partidos de esquerda participam de
governos nesses países.
Lula também voltou a criticar a imprensa e acusou os veículos de
comunicação de “fazer oposição pelo editorial”. Ele disse que é preciso
saber usar melhor as redes sociais e a internet do que pedir entrevista.
— Aqui no Brasil nós reclamamos muito da mídia. A oposição aqui é a
imprensa. Em alguns jornais, eles fazem oposição pelo editorial. Ao
invés de brigar com isso, temos que melhor saber usar a internet, melhor
saber usar as redes sociais — disse Lula.
Ele falou ainda da regulação da mídia, disse que nove famílias
controlam praticamente todos os veículos de comunicação e que o país
está atrasado.
— O Brasil está defasado. A regulação é de 1962, no tempo que ligar
do Rio Grande do Sul para Brasília, segundo o (Leonel) Brizola, levava
seis horas. Não tinha nem fax. E na era da TV Digital, ainda tem nove
famílias que controlam toda a comunicação do país — declarou Lula.
DEMOCRACIA COMPLICADA
O evento com o político
espanhol foi aberto pelo presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto.
Em seu discurso, ele disse que a democracia ficou “ainda mais
complicada” depois do surgimento das redes sociais.
— A democracia hoje é uma coisa muito complexa. A democracia
pressupõe que as pessoas têm muito conhecimento, as pessoas tentam
pensar nas suas decisões o que é bom para a maioria das pessoas. E hoje,
com a globalização da informática, com as redes sociais, muitas
opiniões são criadas muito rapidamente, muitas vezes sem ter os
fundamentos, sem ter as informações. Hoje, construir a democracia
baseada em informações, em conhecimento, em fundamento, é uma coisa mais
complexa. Precisamos quebrar a cabeça para ver como vai dar conta disso
— explicou Okamotto após o evento.
Convocado a prestar depoimento à CPI da Petrobras para explicar
doações de empreiteiras investigadas no esquema de corrupção da
Petrobras ao instituto, Okamotto disse que todas as doações são lícitas.
— Quem contribuiu com o instituto foram as melhores empresas, em
todos os setores. Isso muito nos orgulha porque não é fácil convencer
uma empresa dessas a contribuir com o instituto. A origem do dinheiro é a
mais lícita. Foi pedido, dado para o instituto. Esse procedimento tem
em vários países do mundo. Não é coisa que inventamos, outros
ex-presidentes também fazem isso — afirmou o presidente do instituto
referindo-se indiretamente à instituição do tucano Fernando Henrique
Cardoso.
Okamotto também disse que há uma tentativa de criminalizar as atividades do Instituto Lula.
— Tem setores que querem criminalizar, ver coisas onde não existem.
As coisas são lícitas, transparentes. Não há nenhum problema, não
tivemos que fazer nada de especial para conseguir recursos a não ser
mostrar nossos propósitos, como esse evento para discutir a democracia.
REPROVAÇÃO
Os petistas presentes no evento de
hoje evitaram comentar a pesquisa Datafolha, divulgada sábado, que
mostrou que o governo da presidente Dilma Rousseff foi avaliado como ruim ou péssimo por 65%
dos eleitores. O instituto também simulou um cenário de corrida
eleitoral para a Presidência da República. Aécio Neves (PSDB-MG)
alcançou 35% das intenções de voto.
O secretário de comunicação do PT, deputado José Américo, afirmou que
Lula não é candidato e que a rejeição à presidente permanece no mesmo
patamar.
— A situação é a mesma. Não houve nenhum acontecimento que fizesse o
cenário melhorar. E Lula ainda não é candidato, enquanto Aécio é
candidatíssimo.
O presidente do diretório estadual do PT em São Paulo, Emídio de Souza, justificou os números pelos ataques que o partido sofre.
— Com o massacre que o PT está sofrendo, Lula manter 25% das intenções de voto é positivo. Mostra que ele e o PT tem vitalidade.
O presidente do partido, Rui Falcão, não conversou com a imprensa.
Colaboraram Jaqueline Falcão e Stella Borges