O que acontece se o Brasil perder o grau de investimento?

Mercado tem reagido a temores de corte na nota de crédito do país.
Veja 6 perguntas e respostas sobre as agências internacionais de risco.

O mercado tem vivido dias de expectativas à espera do resultado da recente visita da agência internacional de risco Moody’s ao Brasil. O receio de que o país perca o grau de investimento – espécie de selo de bom pagador e “porto seguro” para investidores – tem influenciado a tendência de alta do dólar e de queda da Bovespa nos últimos dias. Mas, afinal, qual seria o efeito da perda do grau de investimento para os brasileiros?
Veja abaixo 6 perguntas e respostas sobre o risco de um rebaixamento do Brasil. Para elaborar as respostas, o G1 ouviu Alex Agostini, presidente da agência de classificação de risco Austin Rating, Bruno De Conti, do Centro de estudos de Conjuntura Política Econômica da Unicamp, e Judas Tadeu Grassi Mendes, da EBS Business School.
O que é grau de investimento? selo (Foto: G1)
O grau de investimento é um selo de qualidade que assegura aos investidores um menor risco de calotes. A partir da nota de risco que determinado país recebeu, os investidores podem avaliar se a possibilidade de ganhos (por exemplo, com juros maiores) compensa o risco de perder o capital investido com a instabilidade econômica local. O Brasil conquistou o grau de investimento pelas agências internacionais Fitch Ratings e Standard & Poor’s em 2008. Em 2009, conquistou a classificação pela Moody’s.
Classificação das agências de risco (Foto: Arte/G1)
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Para que servem as notas de crédito das agências e o grau de investimento? (Foto: G1)
Alguns fundos de pensão internacionais, de países da Europa ou os Estados Unidos, por exemplo, seguem a regra de que só se pode investir em títulos de países que estão classificados com grau de investimento por agências internacionais. Por isso, essa “nota” permite que o país receba recursos de investidores interessados em aplicar seu dinheiro naquele local.


“O propósito principal das agências é justamente atribuir uma nota que indique ao mercado financeiro a possibilidade ou o risco de que o emissor de determinado título de dívida venha a não cumprir com o compromisso de dívida, ou seja, venha a dar um calote”, diz Bruno De Conti.
 

por que o brasil pode perder o grau de investimento (Foto: G1)
As agências de risco avaliam a situação econômica do país para determinar se o selo de “bom pagador” é apropriado ou não. Por isso, indicadores ruins e ambiente econômico de incertezas em um país podem gerar uma tendência de rebaixamento da nota.


No caso do Brasil, o mercado teme que o país, depois do esperado rebaixamento pelas agências de avaliação de risco Moody’s e Fitch, receba perspectiva negativa de alguma delas.


Judas Tadeu Grassi Mendes aponta que o principal problema é o conjunto de indicadores econômicos negativos.

“Todos os indicadores estão negativos. O governo tinha prometido 1,2% (do PIB) de superávit primário agora está praticamente acenando que vai ser negativo, como foi no ano passado”, diz ele, apontando o anúncio de que o governo decidiu revisar a meta de economia para pagar os juros da dívida – o chamado superávit primário – para R$ 8,747 bilhões em 2015, o equivalente a 0,15% do PIB, ante previsão anterior de R$ 66,3 bilhões (1,19% do PIB).

“Não está havendo cortes efetivos”, continua Mendes. “Todo esse ajuste fiscal é muito mais de aumento de juros que corte de despesa. A Selic mais alta significa que o governo vai se enterrar mais ainda em juros. O número de desempregados é crescente. A inflação está no dobro da meta, em 9% quando deveria ser 4,5%. Ou seja não há um único indicador razoavelmente favorável, pelo contrário.”

Já Bruno De Conti considera “exagero” colocar o Brasil em uma classificação de maior risco de “calote” de sua dívida. “Já começa que existe muita especulação sobre a própria idoneidade das agências. Elas estão completamente mergulhadas nessas operações de mercado e algumas pessoas questionam a pretensa neutralidade nessas análises.”

“Os critérios que são usados em teoria deveriam verificar justamente a capacidade de pagamento da dívida. Nesse aspecto, eu discordo que o Brasil esteja numa situação que exista risco de calote, esse risco não está no horizonte. É evidente que o resultado das contas públicas piorou, mas daí dizer que há risco de calote é exagero”, diz De Conte.

o que acontece com os investimentos se o Brasil perder a classificação? (Foto: G1)
Sem o grau de investimento, muitos investidores estrangeiros não aplicariam mais dinheiro no Brasil. Também poderia acontecer a saída de recursos aplicados atualmente. A situação ocasionaria então uma “fuga” de capital do país. “O que significa na prática é que um país que perca o grau de investimento não vai mais poder contar com recursos desses fundos de previdência, e isso pode significar uma fuga de capital”, diz De Conti.
O que muda efetivamente na vida das pessoas? (Foto: G1)
A fuga de capital internacional teria um “efeito em cascata” para a economia, como aponta Alex Agostini. “O efeito cascata seria a menor geração de emprego, alguns desarranjos na política econômica. O mercado entende já que vão entrar menos dólares no Brasil e o preço sobe, que é o que está acontecendo agora. Então, os produtos importados ficam mais caros. Vai ficar mais caro para quem se utiliza de produtos de saúde, por exemplo, que é um setor que importa muito. O mesmo ocorre com máquinas e fertilizantes para o setor agrícola”, diz Alex Agostini, explicando que a situação agravaria a inflação.


Agostini também aponta que menos investimentos também pode afetar o poder aquisitivo das pessoas. “Torna a vida do cidadão comum mais difícil para conseguir emprego ou amenta o risco de perder o emprego.”

O que muda para as empresas? selo (Foto: G1)
Agostini aponta que a perda do grau de investimento não impede que o país seja alvo de investimentos de empresas interessadas em abrir unidades no Brasil. Porém, a perspectiva de retorno para essas empresas é menor e, por isso, o volume de capital investido tende a diminuir.


“A empresa que antes tinha uma perspectiva de retorno de 10% a 15% passa a ter expectativa menor. Isso porque, se ela investir aqui, dado que esse país vai receber menos recursos, o potencial de consumo do país diminui. Então, os produtos que a empresa iria ofertar no mercado não vão mais ter aquele preço, a quantidade não pode ser a mesma. Isso impacta no retorno esperado pela empresa e ela pode reduzir o volume incialmente previsto”, diz o especialista.

Ele aponta que isso implicaria em menos geração de empregos. “US$ 1 bilhão investido tem um determinado número de pessoas que seriam empregadas. Com um volume menor investido, naturalmente esse número também será menor.”


fonte: Do G1

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