Apesar do rebaixamento, dólar cai a R$ 3,80 e Bolsa sobe 1%
Divisa acompanhou movimento do exterior no fim da sessão
RIO – O rebaixamento do Brasil pela agência Fitch nesta quinta-feira provocou oscilação no câmbio e nas ações brasileiras mas, por já ser esperado, teve pouco impacto no fim do dia.
O dólar comercial, que chegou a subir a R$ 3,878 à tarde, acompanhou a perda de força da moeda no exterior e fechou em queda de 0,26%, valendo R$ 3,803. Já a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), que chegou a recuar 0,83% depois do “downgrade”, fechou em alta de 0,96%, aos 47.168 pontos, também acompanhando o bom humor dos mercados externos.
O estrategista para mercados emergentes do banco francês Societé Generale em Londres, Bernd Berg, considera que o rebaixamento pela Fitch já era esperado há muito tempo. Segundo ele, “existe agora uma nova janela de oportunidade de algumas semanas para o Brasil resolver a turbulência política e fiscal”. Mesmo assim, o analista considera novos rebaixamentos nos próximos três meses.
— Na conjuntura externa mais amigável das últimas semanas, até o real registrou certo alívio. Mas nos últimos dias ele voltou a ficar sob pressão com o impasse político paralisando a economia. Os dados econômicos brasileiros estão deteriorando e a tomada de decisões está paralisada devido ao atual conflito político. Eu, hoje, não vejo como evitar um ‘downgrade’ para grau especulativo por parte da Fitch ou da Moody’s — afirmou. — Assim, o real vai continuar sob pressão especialmente se o cenário externo voltar a piorar.
Para Carlos Heitor Campani, professor de finanças do Instituto Coppead de Administração da UFRJ, a atitude da Fitch trouxe até um viés positivo.
— O mercado já esperava o corte. O medo, na verdade, era que o Brasil fosse rebaixado diretamente para frau especulativo, o que não aconteceu — afirmou. — Como a Fitch estava dois níveis acima do grau especulativo, porém, perdemos a última “gordura” disponível para queimar. O que preocupa é a Moody’s, a única das três grandes que ainda não se manifestou depois dos eventos recentes ocorridos no Brasil. Eu acho bem possível que, em um dia qualquer de hoje até dezembro, essa agência rebaixe o Brasil para “junk”.
Entre as ações, a alta de maior impacto foi da Ambev, que avançou 3,42%, para R$ 19,03. Segundo notícias publicadas na imprensa internacional, sua controladora, a AB Inbev, planeja captar US$ 55 bilhões com títulos para financiar parte da compra de US$ 106 bilhões da cervejaria sul-africana SABMiller.
A rede de universidades Kroton disparou 12,02%, a R$ 9,97, após divulgar dados sobre seu desempenho operacional no terceiro trimestre. A base de alunos de graduação cresceu 5% na comparação anual, assim como a de alunos da graduação à distância.
Os papéis da Petrobras subiram 1,05% (ON, com voto, a R$ 9,66) e 0,50% (PN, sem voto; R$ 8,00). A Vale registrou alta de 1,44% (ON, a R$ 18,97) e 1,65% (PN, a R$ 15,43).
Os bancos, porém, caíram com o Bando do Brasil recuando 1,43% (R$ 16,57), o Bradesco registrando baixa de 0,35% (R$ 22,48) e o Itaú Unibanco, de 1,66% (R$ 27,25).
GLOBALMENTE, DÓLAR PERDE FORÇA NO FIM DA SESSÃO
Em escala global, o dólar subiu hoje, mas perdeu grande parte da força no fim da sessão. A moeda chegou a avançar 0,42% contra as dez principais divisas do mundo, segundo o índice Dollar Spot, da Bloomberg, mas fechou em alta de apenas 0,16%.
A economia americana voltou a emitir sinais dissonantes nesta quinta-feira, levando a uma inversão na trajetória do dólar. A divisa vinha perdendo força em escala global desde o fim de setembro com a aposta de que a economia americana não estava forte o suficiente para promover um aumento de juros, mas o Departamento de Trabalho surpreendeu economistas esta manhã ao mostrar que as solicitações de seguro-desemprego caíram ao menor nível desde 1973.
O número de americano que pediram seguro-desemprego na semana passada caiu inesperadamente, levando a média mensal de solicitações do benefício para o menor nível desde dezembro de 1973. O volume caiu de 262 mil para 255 mil na semana terminada em outubro, de acordo com relatório do Departamento de Trabalho dos EUA. Os economistas projetavam 270 mil solicitações.
EXPECTATIVA SOBRE JUROS MOTIVOU QUEDA RECENTE DO DÓLAR
Ontem, o câmbio local teve um dia de correção e acompanhou o movimento do dólar no exterior, registrando queda de 2,08% contra o real, a R$ 3,813. A moeda americana vem perdendo força com a aposta cada vez maior dos investidores de que o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) só subirá juros no ano que vem. Ontem, a divulgação de dados fracos sobre a atividade na China e nos próprios EUA e relatório do Fed reforçaram essa percepção.
Segundo o Livro Bege do Fed, documento que resume as condições econômicas do país e foi divulgado ontem, mostrou que a atividade americana cresceu de forma modesta entre meados de agosto e outubro, com pouca pressão inflacionária e com o fortalecimento do dólar cobrando seu preço aos setores industrial e de turismo.
Com o acúmulo de números decepcionantes sobre a economia global, dados da agência de notícias Bloomberg mostram que o mercado já vê mais de 50% de chance de que a elevação das taxas se dará em abril de 2016. Até o dia 13, a maioria apostava que isso ocorreria em março.
Fonte: O Globo