Cerveró relata ‘ordem de Lobão’ para atender Banco BVA na Petros

“O investimento foi feito, sendo que passados alguns anos o
banco faliu e a Petros perdeu o dinheiro investido”, afirmou o
ex-diretor da Petrobrás, delator da Lava Jato, sobre negócio envolvendo o
ex-ministro Edison Lobão (PMDB-MA), ‘entre 2009/2010’.

O ex-diretor da área Internacional da Petrobrás, Nestor Cerveró, um
dos delatores da Operação Lava Jato, afirmou que ‘entre 2009/2010’ houve
uma ordem do então ministro de Minas e Energia Edison Lobão (PMDB-MA)
para atender o Banco BVA na participação da Petros, fundos de pensão da
Petrobrás. Segundo Cerveró, o dono do banco, José Augusto Ferreira dos
Santos, é amigo de Lobão. O delator relatou que o negócio foi feito e,
alguns anos depois, o banco faliu e a Petros perdeu o dinheiro
investido.

As declarações estão em um resumo entregue por Cerveró à
Procuradoria, antes de o ex-diretor fechar acordo de delação premiada.
Cerveró foi diretor da área Internacional da Petrobrás entre 2003 e
2008. Após ser exonerado do cargo, o executivo assumiu a diretoria
financeira da BR Distribuidora.

“Nestor Cerveró, enquanto diretor Financeiro da BR Distribuidora
tinha um assento no comitê de investimento, sendo que o restante era
composto por um representante de cada empresa do Grupo de Petrobrás.
Diante disso, Nestor Cerveró indicava para participar dessas reuniões
seu gerente financeiro, especialista em investimentos, Fernando Mattos”,
afirmou o ex-diretor no documento.

Cerveró afirmou que naquele ano o banco BVA fez uma proposta a Petros
para que a empresa fizesse um negócio ‘de grande monta’ em um fundo de
investimento do banco, ‘cujo valor não se recorda, mas certamente
Fernando Mattos lembra’.

“Entre 2009/2010, Nestor Cerveró recebeu um telefonema do ministro
Lobão, questionando quem era Fernando que trabalhava com ele, pois
estava ‘atrapalhando’ a aprovação do investimento da Petros naquele
Banco. Diante disso, Nestor explicou que era um funcionário especialista
em investimentos, sendo respondido que deveria tirar o Fernando, caso
não fosse aprovado o referido investimento. Assim, o investimento foi
feito, sendo que passados alguns anos o banco faliu e a Petros perdeu o
dinheiro investido”, relatou o delator.

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Segundo Cerveró, o comitê de investimento da Petros se reúne mensalmente
para discutir estratégias, ‘sendo que por lei é determinado que os
planos de previdência invistam em rendimentos que sejam superiores à
inflação (em 2010 era de 6%)’. O delator afirmou que, na arrecadação da
Petros, o funcionário paga um valor conforme o seu salário e a Petrobrás
paga a mesma quantia mensalmente.

O fundador do BVA, José Augusto Ferreira dos Santos, foi sócio de uma
das empresas envolvidas na chamada “máfia do lixo” instalada na
prefeitura petista de Santo André, esquema que veio à tona com o
assassinato do ex-prefeito Celso Daniel, em janeiro de 2002. Santos
também teria se envolvido em escândalo relacionado a compensações
fraudulentas de dívidas com a Receita Federal e teve operações recusadas
pelo Fisco quando tentava quitar impostos com créditos podres. Em 2010,
uma advogada de Santos informou ao Estado que o banqueiro foi vítima no
caso escândalo tributário e que teria acertado tudo com a Receita.

Em setembro de 2014, a Justiça aceitou o pedido de falência do Banco BVA.

A reportagem não conseguiu localizar José Augusto Ferreira dos Santos.

COM A PALAVRA O SENADOR EDISON LOBÃO

O advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que defende o
senador Edison Lobão, afirmou que o parlamentar não se lembra de
conhecer José Augusto Ferreira dos Santos, não tem relação comercial com
ele ou com o Banco BVA. Segundo o criminalista, Lobão não sabia que
Nestor Cerveró tinha um assento no Comitê de Investimento. Kakay disse
ainda que nunca tratou deste assunto com Cerveró.

COM A PALAVRA, A PETROS

A Petros esclarece que nunca investiu diretamente no BVA, mas sim em
fundos que eram geridos pelo banco e que, após a sua liquidação, foram
transferidos para outros gestores. A Fundação já recebeu mais de 90% do
total investido em títulos privados estruturados pelo BVA e está na
Justiça buscando o restante. A Petros informa, ainda, que suas decisões
de investimento são tomadas com base em avaliações técnicas e, seguindo
as boas práticas de governança, sempre de forma colegiada, por comitês
técnicos, e nunca por uma única pessoa.

Do Estadão

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