Jovem fala sobre 1º Dia das Mães ao lado de filha com microcefalia

Steffany de Oliveira, 20, vai ter seu 1º Dia das Mães neste domingo (8).
Dona de casa teve zika durante gestação; ‘Cada dia há uma vitória’, diz.

Era 23 de dezembro de 2015, às vésperas do Natal. Steffany de Oliveira estava na sua 40ª semana de gravidez e havia completado 20 anos um dia antes. As contrações começaram por volta das 4h e, às 6h20, nasceu a primogênita Bianca, de parto normal, em um hospital de Itaguaí, Região Metropolitana do Rio.
Tudo havia ocorrido dentro da normalidade, mas uma pergunta no hospital despertou a inquietação da nova mãe: “Você teve zika durante a gestação?”, questionaram.
A afirmativa de Steffany confirmou a desconfiança dos médicos ao ver o bebê com o perímetro encefálico muito pequeno: era mais um caso suspeito de microcefalia no RJ.
“Aos três meses eu descobri que estava com zika, mas até então eu não estava sabendo da microcefalia aliada à doença. Eu nem conhecia isso. Me deixaram seis dias no hospital [após o nascimento] e disseram que o crânio dela era menor que o normal. Quando recebi alta, vendo televisão, que fui descobrir o que era a microcefalia. Eu não pesquisei nada pela internet, porque eu tenho medo do que eu vou ver e ficar muito mal. Procuro pensar que cada dia há uma melhora, uma vitória”, conta a dona de casa.

Ansiosa para passar seu primeiro Dia das Mães com Bianca no colo neste domingo (8), Steffany sonha com o futuro da filha.
“Não é fácil, mas não é nada que não dê para superar. Quando a gente acorda e vê um sorriso, vê nosso filho se desenvolvendo, é maravilhoso. Tem muito preconceito, mas a cada dia que passa a gente supera. Quando a gente quer ser mãe, não adianta. A gente não vê obstáculos e vida que segue. Eu vejo a Bianca como um presente, um milagre. Acho que ela vai andar, falar, sorrir, brincar, fazer pirraça e vejo ela bem lá na frente. Ela vai crescer como uma criança normal.”
Ao todo, 1.271 casos no país
O número de casos confirmados de microcefalia no Brasil chegou a 1.271, segundo balanço do Ministério divulgado na quarta-feira (4). Ao todo, foram 7.343 notificações desde o início das investigações, em 22 de outubro, até 30 de abril.

Segundo a pasta, 2.492 casos foram descartados e outros 3.580 casos ainda estão sendo investigados. Dos casos confirmados de microcefalia, 203 tiveram teste positivo para o vírus da zika.

A microcefalia é diagnosticada quando o perímetro da cabeça é igual ou menor do que 32 cm. Portanto, o esperado é que bebês tenham pelo menos 34 cm. Isso vale apenas para crianças nascidas com 9 meses de gravidez. No caso de prematuros, esses valores mudam e dependem da idade gestacional em que ocorre o parto.
Magno Lucas e Steffany dão um beijo na filha Bianca, portadora de microcefalia (Foto: Lívia Torres / G1)Magno Lucas e Steffany dão um beijo na filha Bianca, portadora de microcefalia (Foto: Lívia Torres / G1)
Tristeza com diagnóstico
Com os olhos marejados, Steffany conta que ficou deprimida quando Bianca foi diagnosticada com microcefalia. Ela diz que o apoio da família, do marido, o carreteiro Magno Lucas, 28, e o tempo foram fundamentais para a aceitação e o entendimento de como seria a vida da família dali para a frente.
Não quero que gostem dela por pena, porque eu não tenho pena da minha filha.”
Steffany de Oliveira, mãe
“Eu fiquei muito triste quando descobri, mas minha filha sempre reagiu a tudo. Ela observa, escuta e eles [os médicos] estavam esperando receber um bebê parado, debilitado. Quando eu recebo elogio das pessoas, eu vejo que não é o fim do mundo. Claro que eu vou passar dificuldades, como eu já passo hoje. Tem gente que espera ver um bebê pra baixo e não é assim. Têm pessoas que acham incrível porque ela é muito bem desenvolvida. Não quero que gostem dela por pena, porque eu não tenho pena da minha filha.”
Preconceito
A dona de casa enumera as histórias de preconceito sofridas pela família após o nascimento da menina Bianca, hoje com 4 meses.
“Eu vejo ela como um bebê normal, não vejo diferença. Mas as pessoas são ignorantes. Já aconteceu de eu ir a um posto de saúde e as pessoas olharem minha filha diferente, de forma atravessada. Dizem que a cabeça dela não vai crescer, já disseram que ela é inválida, que não vai poder trabalhar. Mesmo que ela tenha sequelas, é uma criança normal. Eu choro muito, mas a cada sorriso que ela dá, eu fico feliz de novo,” comemora.
Steffany de Oliveira grávida de Bianca (Foto: Arquivo Pessoal)Steffany de Oliveira grávida de Bianca (Foto: Arquivo
Pessoal)
‘Microcefalia sempre existiu’, diz médica
A médica Fernanda Fialho, coordenadora do projeto para acolhimento de casos de microcefalia ligados ao zika vírus do Instituto Estadual do Cérebro (IEC), esclarece que a microcefalia sempre existiu, que o número de casos aumentou recentemente e que, por isso, o tema ficou mais em evidência.
“Primeiro é uma frustração [para as mães]. Depois uma necessidade de proteger. A melhor coisa para nós, médicos, é ver que existe uma família que vai cuidar. É um problema para vida toda. A gente quer fazer com que as mães saibam o que vão precisar, contar como será a vida daqui pra frente. Ninguém é mais importante que a mãe e o nosso papel aqui é capacitar essa mãe.”

Fernanda explica também quais sequelas a microcefalia pode ocasionar: “Existe um comprometimento auditivo e visual, o desenvolvimento motor fica prejudicado. Eles as vezes não conseguem sentar e andar”, explica.

Apesar das adversidades, a mãe de Bianca demonstra otimismo ao falar da filha. “Claro que vamos ter que estimular ela, mas vejo tudo tranquilo. Até esse caso da cabeça dela que não vai crescer, eu não acredito. Eu meço de 15 em 15 dias e vejo que está crescendo. Eu vejo que ela vai ser como eu, como você, normal.”

G1

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